Cileide Alves escreveu um livro de história, confiável, equilibrado, sem distorções ou paixões políticas
Editado há pouco, lançado no dia 10 de dezembro passado, recebo agora, chegando de viagem, o livro da jornalista Cileide Alves, “Iris Rezende — De Líder Estudantil a Governador (1958-1983)”, uma publicação da Cânone Editorial, com 454 páginas bem impressas, bem editadas e bem revisadas. Precede o texto um prefácio do doutor em história Nars Fayad Chaul. Boa moldura, sem dúvida, para o quadro histórico e político que Cileide Alves pinta em seu livro. Nars é um intelectual conceituado, com boa visão política. Creio, pela qualidade do trabalho, que o livro mereceria melhor divulgação do que teve até agora.
Cileide Alves descreve algo mais do que apenas a trajetória do líder político goiano na primeira metade de sua carreira. O que a jornalista faz, na verdade, é descrever, com equilíbrio e sensibilidade, acontecimentos histórico-políticos goianos nas trepidantes décadas de 1960, 1970 e 1980, que tanto marcaram a vida não só de Goiás, mas de todo o Brasil, embora o pano de fundo, sempre presente — e marcante —, seja a figura de Iris. Como Iris se fez nessas três décadas, e nesse teatro de batalhas políticas, mostra naturalmente o texto da jornalista. Não nos esqueçamos que a carreira de Iris se projeta pelas outras décadas seguintes, as de 1990, 2000 e 2010 (ainda) não retratadas pela autora, e encerrando — pelo menos segundo Iris — com seu mandato de prefeito de Goiânia, conquistado em 2016. Esperemos que a autora dê sequência a esse alentado trabalho.
Iris Rezende e sua biógrafa, Cileide Alves | Foto: Divulgação
Como disse, não podemos nos esquecer de que a época abrangida pelo relato de Cileide foi riquíssima em acontecimentos políticos em Goiás, não só no que diz respeito a Iris, mas a todo o Estado. Iris foi eleito vereador em 1958, deputado em 1962, prefeito em 1966 e cassado em 1969. Recuperados seus direitos políticos, foi eleito governador em 1982. Mas tivemos nesse período, em Goiás, a eleição de Mauro Borges em 1960 (e sua traumática cassação em 1964), o movimento de 1964, a Intervenção Meira Matos, o governo Ribas Junior, e a eleição de Otávio Lage. Aconteceram os três governos estaduais, com eleição indireta, de Leonino Caiado, Irapuan Costa Junior e Ary Valadão. Tivemos o movimento pelas Diretas Já em 1983, a eleição de Henrique Santillo e a Constituinte em 1986. E por aí afora… Na esteira desses acontecimentos históricos muitos outros, políticos e administrativos vão surgindo, a par da carreira de Iris. Outros atores, além do principal — Iris — surgem e desaparecem do cenário. Deixo-os para a descoberta do leitor no livro de Cileide.
A autora é uma experiente jornalista goiana e mestre em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Tem trabalho reconhecidamente sério como repórter, analista e editora. Ocupou e ocupa cargos de responsabilidade em grandes empresas jornalísticas de Goiás. Sua publicação ostenta um bom domínio de nosso idioma, uma linguagem de muita clareza, com um encadeamento cronológico absolutamente natural, o que consegue tornar seu texto bastante fácil e agradável de se ler, algo bastante raro de se encontrar nesse gênero literário, o biográfico-político. É de se notar também uma fidelidade aos fatos tal e qual ocorreram, o que recomenda o livro como livro de história, sem distorções ou paixões. A história se escreve “sine ira et studio”, como disse Tácito: sem cólera e sem parcialidade. Não é um livro “engajado”, não é uma hagiografia. Como qualquer leitor vai constatar, é uma obra de documentação, confiável. As notas ao texto foram divididas em blocos, e apresentadas ao fim de cada capítulo, uma inovação de Cileide que torna mais fácil a consulta. As ilustrações fotográficas foram bem selecionadas, apropriadas à finalidade biográfica do trabalho. Trabalho que, sem dúvida, permanecerá como um livro importante na estante da história política de Goiás.
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10/02/2018 10h07 Por Redação Edição 2222
Lançado em 2017, “Folhas Secas sob Meus Pés” fala da transformação da mulher da infância à velhice, exaltando a vivacidade do amadurecimento, em que, ao contrário das folhagens outonais, as seivas da vida não se secam