Lançamentos

Vera Maria Tietzmann

Talvez o título mais adequado para este livro fosse Crônicas cedrinas, pois a autora, Maria Luiza Batista Bretas, não teve preocupações em seguir as normas consagradas pelos grandes contistas na construção de suas narrativas. Além disso, como as crônicas, os sete textos que compõem este volume ancoram-se na realidade, têm sua origem em situações vividas pela autora na Comunidade do Cedro durante a pesquisa que lá efetuou, ou em casos que lhe foram relatados por membros dessa comunidade.
A capa, com um negro velho contando histórias a um grupo de crianças também negras, já indica ao leitor ser este um livro calcado na oralidade. Mais do que isso: situa as narrativas num grupamento humano específico, um antigo quilombo, reduto de ex-escravos. De fato, o Cedro, situado no sudoeste de Goiás, próximo à cidade de Mineiros, foi originalmente um quilombo fundado por um escravo forro, Francisco Antônio de Moraes, o legendário Chico Moleque.
As visitas mensais da autora a essa comunidade ao longo de dois anos, por força de um projeto de pesquisa, permitiram-lhe conhecer os cedrinos e suas histórias. São histórias de sabedoria e de amor à flora do cerrado, cujos segredos medicinais eles preservam ciosamente. Mas também são histórias de mistérios e de assombração, típicas do interior goiano, e histórias de vida, como a de Dona Neném ou a do adolescente cujo sonho era possuir um livro de Geografia. A atenção com que a autora ouviu essas histórias e a delicadeza com que as reconta ao leitor – com um olhar de estrangeira, como faz questão de ressalvar – fazem deste pequeno livro uma leitura agradável e instigante.

BRETAS, Maria Luiza Batista. Contos cedrinos. Ilustração e projeto gráfico de Santiago Régis.
Goiânia: Cânone Editorial, 2016.