A partir dos anos sessenta do século XX, os estudos sobre cultura material no âmbito da Antropologia adquiriram novo interesse. Isto porque embora os objetos estivessem presentes em etnografias clássicas – como os colares e braceletes em Os Argonautas do Pacífico Ocidental (B. Malinowski, 1922) – a cultura material foi relegada, posteriormente, a uma posição marginal na disciplina. Nesse novo lugar que as “coisas” adquirem na produção etnográfica, com ressonância na teoria, perpassa o entendimento de que os objetos não só representam como organizam e constituem a vida social dos povos. Os trabalhos que compõem este livro seguem nesta direção.
Os seis artigos aqui reunidos têm como eixo articulador a boneca cerâmica karajá (Ritxoko, na fala feminina e Ritxoo, na fala masculina) – modelada pelas mulheres – como produtora de relações sociais e articuladora do universo social e mítico do povo Karajá. Interligados ao entendimento de que as Ritxoko são formas de expressão e constituem saber e fazer próprios dos Karajá, diversos tópicos são abordados nos textos que integram esta coletânea: gênero e sociedades indígenas, identidade ética; território, colecionismos e museus; objeto e corporalidade; memória; resiliência; arte indígena; técnica e transmissão de conhecimento.
O registro da “boneca karajá” como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, em 25 de janeiro de 2012, seguindo normas do Decreto 3.551, de agosto de 2000, que instituiu o inventário e o registro do patrimônio cultural imaterial, motivou a organização desta coletânea. Assim, as reflexões aqui apresentadas contribuem também para a reflexão sobre processos de patrimonialização e informam futuros projetos de salvaguarda dos bens registrados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Especificações | |
Autor(a) | Telma Camargo da silva |
Número de Páginas | 224 |