Nos últimos anos, Melina viveu três grandes encontros - o primeiro com o luto, pela partida de sua mãe; o segundo com uma nova visão de trabalho, a governança e a sucessão, e O terceiro com a psicanálise, que instiga a viver uma vida interessante. A elaboração de tudo isso, que não é pouca coisa, ganhou o mundo através das palavras - daí nasceram crônicas que compartilham, generosamente, suas vivências e pensamentos. Escrever é se desnudar diante do mundo. Coisa para gente que dá conta de ser-quem-se-é. Falar de morte também não é algo fácil em nossa cultura. Embora desde sempre o muro da finitude esteja lá para todos, no fim da estrada, não somos muito afeitos a olhar para ele. Porém, como nos lembra o pai da psicanálise, Sigmund Freud, a transitoriedade de tudo que nos cerca eleva o valor do usufruto de cada momento. O também psicanalista Contardo Caligaris complementa esse pensamento, dizendo que “fruir da vida só é possível para quem não se distrai, para
quem, ao contrário, mantém um esforço constante de atenção à vida”.
É isso o que recebemos de Melina nos textos que compõem esta obra: uma chamada a termos um olhar atento à vida, justamente porque a morte é certa. Então, diante (ou seria adiante?) dela, a questão relevante é o que se coloca no recheio dos dias. Acompanhei de perto o processo de escrita de cada uma dessas crônicas, as inquietudes que nelas surgiam, o desejo de fazer existir para os leitores a possibilidade de remexer o território dos pensamentos e, claro, inspirar novos movimentos.
“Podemos viver melhor?”, é o que Melina nos diz nas páginas que se seguem. Por amar a vida, ela fala da morte. Por nos amar, ela nos dá este presente.