Rio do Sonho

Nada mais significativo que o título do livro de Maria Lúcia Felix Bufáiçal, Rio do sonho. Este conjunto de poemas, associado ao rio Araguaia (tão presente no imaginário dos goianos), mas que também fala de um rio universal, em toda sua riqueza simbólica, é efetivamente feito de rio e de sonho, de água e de memória, de tempo, de fluidez, de lembranças afetivas, líquidas e pessoais. Buscando no rio a sua matéria poética, os poemas que compõem o livro se estruturam a partir do campo semântico de rio e água; e em torno dele gravitam substantivos como peixe, sereia, margem, correnteza, praia, areia, barco, pântano, remanso, porto; verbos como mergulhar, pescar, garimpar, navegar, lavar, refrescar. O devaneio hídrico propiciado pelos poemas inclui também a água do céu, a chuva escondida na nuvem, o que faz surgir imagens que associam os peixes aos pássaros. Tudo converge de modo harmônico para uma constelação simbólica que unifica os poemas, os quais ganham força na medida em que compõem uma mesma atmosfera lírica.