Na infância de um povo, os mitos são sua leitura do mundo, explicam os mistérios da natureza de forma narrativa e plástica. Uma pedra que verte água, um sorvedouro no mar, uma aranha que nunca finaliza sua teia, um galo que nas trevas anuncia o sol, ilhas rochosas que atraem barcos para destruÃ-los – são muitos os enigmas da natureza. Para decifrá-los, a imaginação de nossos ancestrais criou os mitos, e nisso os gregos foram insuperáveis. Se eles tivessem apenas explicado os fenômenos naturais, talvez seus mitos não conservassem o fascÃnio que ainda exercem sobre o homem moderno, porque
hoje a ciência desvenda esses enigmas. Contudo, em muitos relatos mÃticos, os gregos associaram um mistério da natureza a um mistério da alma humana, em simbiose perfeita. E a alma ainda tem abismos insondáveis. Os mitos de Narciso e de Perséfone apresentam essa dupla face. O primeiro justifica a existência de uma determinada flor, o segundo, a alternância das estações do ano em ciclos de germinação e de colheita. Mas Narciso também fala da solidão, da incapacidade de amar, do autoerotismo. Perséfone, por sua vez, fala do medo e também dos laços familiares, dos vÃnculos que unem mães e filhas e que não se anulam com o casamento. Narciso e Perséfone não se circunscrevem ao mundo do mito grego, tão recuado no tempo, mas são personagens que revivem nos conflitos de pessoas reais, em todas as épocas, e, por isso mesmo, são retomados sob muitas faces pela literatura e pela arte. A atualidade desses dois personagens emblemáticos da mitologia grega constitui o fundamento de Reflexos e sombras: arquétipos e mitos na literatura.
Especificações | |
Autor(a) | Enivalda Nunes Freitas e Souza Soraya Borges Costa |
Número de Páginas | 188 |